Ter um cão sociável é o objetivo ou o sonho de quase todos os proprietários de cães, afinal, quem não quer ter aquele cachorro companheiro, que vai em todos os lugares conosco e se dá bem com todo mundo, não é? Mas infelizmente sabemos que nem todos conseguem materializar esse sonho de imediato e muitas famílias sofrem com cães que têm problemas de reatividade com outros cães e/ou com pessoas, por isso, hoje, vamos falar sobre o tão conhecido e controverso tema da socialização: como e quando começar e quais são os erros mais comuns cometidos nessa etapa?
Para começar, é importante deixar claro que socializar é existir num contexto social, ou seja, ser sociável significa ter a habilidade de estar e transitar em ambientes de grupos de forma harmônica e educada, respeitando o espaço e o limite alheios. Veja que, já na sua definição, a socialização de sucesso tem pré-requisitos e não acontece de forma desgovernada. Agora como tudo isso se aplica no universo canino?
Como sabemos, os cães são uma espécie de grupo e têm uma habilidade natural para esse convívio, porém cães domésticos são criados por nós, humanos, e cada um de nós tende a criar cães de formas diferentes, com hábitos, regras e privilégios diversos. Nesse contexto, muitos cães acabam tendo referências diferentes e não necessariamente atuam no universo social como fariam se fossem criados de forma primitiva. Isso faz com que o processo de socialização seja mais desafiador, já que, em algum momento, precisamos introduzir os nossos cães ao mundo real onde existem outras pessoas e outros animais que se comportam de forma, muitas vezes, diferente.
Mas vamos aos exemplos práticos com algumas dicas para esclarecer melhor:
1- Na fase de filhote, introduza o seu cão a pessoas diferentes. Veja que estamos falando em introdução, ou seja, o seu cão deve estar na presença de pessoas novas de forma calma e tranquila. É o seu papel como humano-orientador regular essa interação e garantir que pessoas novas não se tornem um evento de extrema excitação para o seu cão. O objetivo aqui é existir na presença de pessoas e não fazer um carnaval com elas. Filhotes que aprendem a respeitar pessoas tendem a crescer sabendo lidar com estranhos de forma mais calma e aceitam a sua presença sem a necessidade de engajamento constante.
2- Quando o seu cão puder fazer caminhadas, faça essa atividade com ele definindo uma regra clara: na caminhada, não existe interação ou engajamento com outros cães. Por quê? O seu cão deve aprender a existir e estar na presença de outros cães de forma respeitosa antes de pensar em engajar com qualquer um deles. Lembre-se que existir ou estar na presença de outros cães é socializar, ou seja, quando você sai para caminhar com o seu cão no bairro, ele vai ver e passar por outros cães, logo vai estar socializando, mas de forma educada, sem interferir no espaço ou na atividade deles. Essa é uma excelente prática que cria cães educados e aptos a estar em diversos ambientes de forma neutra e agradável.
3- Quando você decidir apresentar o seu cão a outro cão, faça essa escolha selecionando cães que tenham uma boa energia, que sejam calmos e principalmente que estejam sob o total controle dos seus donos. O primeiro encontro deve ser uma caminhada juntos, sem agitação, cada um com o seu dono e andando na mesma direção. Depois da caminhada, procure um local de descanso e coloque cada um no seu espaço, lembre que o objetivo é estar no mesmo ambiente dentro da mesma atividade, mas cada um no seu espaço. Eventualmente, eles podem se cheirar e interagir, mas sempre com supervisão. Limite a interação por um período e crie espaço novamente para que os cães relaxem e voltem a existir um com o outro. Lembre que você é responsável por fazer dessa uma boa experiência, com muita calma, harmonia e tranquilidade e que, para isso, é necessário fazer intervenções nos momentos certos.
4- Evite a aproximação de cães agitados e fora de controle. Esses são os cães que vêm puxando os seus donos na guia na sua direção, latindo e pulando. Nessa hora, você é o protetor do seu cão e ele precisa confiar que você vai manter ele seguro diante de qualquer cenário, por isso, se for preciso, atravesse a rua e siga o seu caminho em outra direção.
5- Trabalhe controle de impulsos e respeito de espaço com o seu cão constantemente por exercícios de “deita” e “fica” em lugares diferentes. Lembre-se que o que você quer é condicionar o seu cão a deitar e ficar ao seu lado quando você estiver em algum lugar. Essa prática vai ser fundamental para a fase de introdução do seu cão em locais públicos, como restaurantes, cafés ou casas de amigos e família. O objetivo é fazer o seu cão estar em lugares diferentes sem intervir ou engajar com estranhos ou com outros animais. Essa atividade cria um hábito de relaxamento nos cães e faz com que eles aprendam a lidar melhor com ambientes novos de forma calma, tranquila e sem agitação.
Veja que tudo que falamos até agora tem como base de referência a nossa orientação humana no processo, que é essencial para que a fase de socialização tenha sucesso. Lembre que cães sociáveis não são agitados, descontrolados ou arteiros. Cães sociáveis sabem se comportar na presença de pessoas estranhas, outros cães, crianças, idosos e estímulos diferentes. Cães sociáveis sabem se controlar, sabem respeitar o espaço alheio e sabem estar em ambientes diversos de forma calma e tranquila.
Não confunda comportamento invasivo com carência, agitação com alegria e falta de respeito com brincadeira. O universo social é grande e complexo e é o nosso papel criar cães aptos a transitar nesse contexto com a melhor etiqueta possível, sempre zelando pelo bem-estar de todos. Faça a sua parte e mostre ao seu cão como ser um bom membro da sociedade, criando e nutrindo bons hábitos todos os dias.